LITURGIA: dom santificador e salvador de Deus a humanidade

Caríssimos irmãos e irmãs, iniciaremos a partir deste mês uma caminhada de estudo, formação e espiritualidade sobre a Liturgia da Santa Missa e suas respectivas partes, que nos ajudarão a crescermos na fé e a mergulharmos no amor misericordioso do Cristo Ressuscitado que quer nos renovar, santificar e salvar. Salvação esta que se torna presente e se torna atual no hoje da celebração.

Para falarmos da Santa Missa primeiramente é necessário falarmos de Liturgia, pois uma está ligada a outra. No Evangelho de São João 1-1,14 encontramos a seguinte passagem: “No princípio já existia a Palavra e a Palavra se dirigia a Deus e a Palavra era Deus… 14 A Palavra se fez homem e acampou entre nós”. Jesus Cristo veio inaugurar uma nova vida, um novo modo de à humanidade relacionar-se com o transcendente, com o próprio Deus, entrando em comunhão com Ele. Jesus Cristo é o Verbo, é a própria Palavra de Deus encarnada que veio prestar a humanidade um serviço! Mas qual serviço? O serviço de Salvação. Este serviço de salvação é obra da Santíssima Trindade, é a Liturgia de Deus à humanidade.

Jesus Cristo ao prestar o serviço de salvação à humanidade libertou-a do pecado e da morte, vencendo a morte e garantindo a vida para todos. Com isso, prestou o verdadeiro culto ao Pai na obediência total ao Pai em sua entrega a Ele no amor.

Esta ação de Jesus é chamada Mistério Pascal. No Evangelho de São João 19,34 no episódio da cruz vemos: “mas um soldado lhe abriu o lado com um golpe de lança. Imediatamente jorrou sangue e água”. Na cruz brotou a fonte divina sempre a jorrar água viva, na qual todo ser humano pode matar sua sede de Deus.

Jesus confiou este serviço divino de salvação e de glorificação de Deus aos Apóstolos e a toda a Igreja.

A Igreja foi encarregada de fazê-lo de dois modos. O primeiro, obedecendo ao mandato de Jesus: “Ide por todo o mundo, proclamando a boa notícia a toda a humanidade” (Mc 16,15), é a boa-nova da salvação, o mistério pascal, anunciando que Cristo sofreu e morreu, mas que ressuscitou e que continua entre nós pela ação do Espírito Santo. Levando a todos a crerem em Jesus Cristo e no seu Evangelho e a conformarem sua vida com a de Jesus Cristo, a viverem o mandamento do Amor como testamento de Jesus Cristo “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12). Temos então, o memorial testamentário: ação de caridade, caminho, sinal e instrumento de salvação.

O segundo modo de a Igreja prestar o serviço de salvação à humanidade é pelo memorial celebrativo ou ritual do mesmo serviço de salvação, obra da Santíssima Trindade. A esse serviço de salvação chamamos propriamente de Liturgia da Igreja, que através dos ritos, que recordam o serviço de salvação de Jesus Cristo, esta salvação se torna presente e atual no hoje da celebração.  

O Concilio Vaticano II através da Constituição litúrgica “Sacrossanctum Concilium” – que foi o primeiro documento conciliar, publicado em Roma em 4 de dezembro de 1963, definiu a Liturgia da Igreja como “uma ação sagrada pela qual através de ritos sensíveis se exerce, no Espírito Santo, o múnus sacerdotal de Cristo, na Igreja e pela Igreja, para a santificação do homem e a glorificação de Deus” (SC, 7).

A luz da “Sacrossanctum Concilium” e aprofundando um pouco veremos que a Liturgia é uma: Ação sagrada: ação de uma comunidade, igreja onde Cristo age. É sagrada, pois comunica Deus e por ela nos comunicamos com ele. E aí entra a fé e o amor. Através dos Ritos sensíveis, esta comunicação com Deus, por Cristo e em Cristo se faz através de sinais e símbolos, isto é, de forma sacramental. Pelo múnus sacerdotal de Cristo, é ele (Cristo) quem age e continua a realizar a obra da salvação de modo que todos possam realizar a sua vocação sacerdotal recebida no Batismo. A ação sagrada é de Cristo. É ele o sacerdote principal, o oferente e a oferta.  Cristo age na Igreja e pela Igreja não age sozinho, mas se faz presente na e pela ação da Igreja toda. Para que? Para a santificação do homem e a glorificação de Deus. Estes são os dois movimentos de cada ação litúrgica: o movimento de Deus para o homem que é a santificação. E o movimento do homem para Deus que é a glorificação.

O Documento de Medellín acerca da Liturgia afirmou que: “A liturgia é a ação de Cristo Cabeça e de seu corpo que é a Igreja. Contém, portanto, a iniciativa salvadora que vem do Pai pelo Verbo e no Espírito Santo, e a resposta da humanidade naqueles que se enxertam, pela fé e pela caridade, no Cristo, recapitulador de todas as coisas. A liturgia, momento em que a Igreja é mais perfeitamente ela mesma, realiza indissoluvelmente unidas, a comunhão com Deus entre os homens, e de tal maneira que a primeira é a razão da segunda. Se antes de tudo procura o louvor da Glória e da graça, também está consciente de que todos os homens precisam da Glória de Deus para serem verdadeiramente homens” (Medellín – lit. 9,2).

O Cardeal Daneels em um artigo escreveu que a liturgia não nos pertence. Ela é de Deus, é dom de Deus oferecido à humanidade por Cristo e em Cristo. A Liturgia nos supera infinitamente porque é divina. A Liturgia celebrada é um dom de Deus à sua Igreja, a humanidade inteira. Não somos nós que fazemos a Liturgia; é ela que nos faz. Não nos apossamos da Liturgia, mas devemos deixar-nos apossar por ela. Não conduzimos a Liturgia, mas deixarmos conduzir-nos por ela.

A Igreja celebra, fazendo memória do Mistério Pascal de Cristo. E, celebrando o mistério pascal, ela o atualiza.

Portanto, na Liturgia estamos diante do próprio Deus que em Cristo quer nos tornar novas criaturas e nos dar a salvação! Devemos buscar a Liturgia? Certamente sim, pois como diz o próprio Santo Agostinho: “Fizeste-nos para ti, Senhor, e nosso coração andará inquieto enquanto não descansar em ti”.