A Santidade de Vida

“Sede santos, porque Eu sou santo” (Lv 11,45; 1 Pd 1,16)

Pedro, no Livro dos Atos dos Apóstolos, refere-se a Jesus como “Aquele que passou fazendo o bem”. Poderia ser o epitáfio mais desejado pelos cristãos na sua passagem por este mundo. Nestes tempos somo convidados a “Dar graças por viver em Deus”, outra forma de dizer o caminho de santidade a que todos os batizados são interpelados. E para isso não há apenas um itinerário: “Os caminhos de santidade são as mil e uma formas de passarmos pela vida, de a vivermos, fazendo o bem. Isso é que é ser santo”. “Penso que a melhor forma de sermos santos é olharmos para a nossa vida e termos a perceção do que precisamos de fazer para promover o bem, nas relações uns com os outros, na relação com a natureza criada – que é um dom que nos é oferecido –, e como passar e fazer o bem na nossa própria entrega a Deus. Existem mil e uma declinações sobre a forma como passamos pela vida a fazer o bem e isso é que nos torna santos. Creio que não há ninguém que não gostasse de ter, no fim da vida, como epitáfio, aquilo que Pedro disse de Jesus: ‘aqui está alguém que passou fazendo o bem’, rejeitando qualquer fórmula mágica para viver a santidade.

“O modo como cada um de nós o faz é que tem de ser descoberto por si e a mensagem de Fátima oferece-nos as ferramentas para sermos criativos, tal como o foram Francisco e Jacinta. “O testemunho de Francisco para nós, hoje, é como que um murro no estômago. Nós temos uma necessidade enorme de viver com algo que nos ocupe e com algum ruído que preencha os nossos dias. A dificuldade que temos em estarmos em silêncio, sozinhos, é flagrante: precisamos de ligar a televisão e o rádio para sentirmos que estamos acompanhados. O que Francisco nos mostra é que isso, sendo importante, não dispensa os momentos de silêncio e de oração. O templo é a busca desse silêncio que atrai tantos peregrinos”.

Por outro lado, “incorremos muitas vezes no erro de pensarmos que quando damos mais atenção a Deus deixamos de ter tempo para dar atenção aos outros. Demasiadas vezes contemplamos Francisco e Jacinta como modelos de entrega a Deus e esquecemo-nos de como essa entrega os levou aos outros: na atenção aos outros, na partilha, no sofrimento com a dor daqueles que pediam a sua ajuda, o cuidado que tinham para não entristecer os que estavam ao seu lado… tudo isso nos deve motivar”.

“Creio que a mensagem de Fátima tem, antes de mais, em relação a este caminho de santidade a que somos convidados, o grande mérito de nos ajudar a desconstruir a imagem que temos do que é ser santo. Por vezes, temos na mente determinados itinerários de santidade, quando olhamos para a figuração dos santos; mas a mensagem de Fátima, estando centrada no essencial do Evangelho, ao apontar-nos para as figuras de Francisco e Jacinta e até de Maria, remete-nos para uma santidade próxima e possível”. “Viver a santidade em olhando para Nossa Senhora de Fátima e os pastorinhos é justamente uma oportunidade para convertermos a nossa ideia de santidade”.

“A santidade de Francisco e Jacinta é o maior legado da mensagem de Fátima. Quando contemplamos as vidas dos santos Francisco e Jacinta, mas também da serva de Deus, Lúcia de Jesus, percebemos que ali temos a mensagem de Fátima vivida e encarnada, também nas consequências”.

“A santidade é intrínseca e conatural a Fátima, porque toda a Mensagem tem como horizonte conduzir-nos a Deus” e porque “nos seus protagonistas encontramos o enorme desejo de serem santos e o esforço diário para serem humildes, misericordiosos, bondosos e próximos de Deus”.

 “Fátima é, por isso, uma escola de santidade”, “é convite para darmos graças a Deus por tantos frutos de santidade” que, ao longo de anos, foi por ela oferecidos ao mundo. “Esta escola de santidade que tem Nossa Senhora por mestra” desafia os cristãos a deixarem-se estimular pelos “sinais de santidade dos mais humildes”.  “A santidade não reside em grandes milagres” e, por isso nos convida a deixarmo-nos a tocar pela santidade dos que vivem perto de nós, que sendo simples são “verdadeiros rostos vivos de Jesus Cristo”. “Quando olhamos à nossa volta nós identificamos alguns santos. Uma santidade “que nos é acessível não pelas nossas forças mas porque nos é dada por Deus”.

“A santidade não é um conceito ou abstração mas um rosto concreto daqueles que se transformaram na imagem viva do rosto de Cristo”.  Não se trata “de um privilégio para alguns eleitos ou escolhidos” mas “é a vocação de todos nós” e o caminho para lá chegar “é o das bem-aventuranças”. “Este é o caminho que a liturgia nos convida a seguir”.  “As bem-aventuranças proclamam antes de mais a primazia de Deus e os santos são aqueles que sabem confiar as suas vidas a Deus”. (JSG)