A PENITÊNCIA é algo FACULTATIVO?

Fátima, 3º Segredo: “Vimos ao lado esquerdo de Nossa Senhora, um pouco mais alto, um anjo com uma espada de fogo na mão esquerda. Ao cintilar despedia chamas que pareciam incendiar o mundo. Mas, apagavam-se com o contato do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro. O anjo, apontando com a mão direita para a terra, com voz forte dizia: – Penitência, penitência, penitência!”

– A penitência é algo facultativo?

– Não. É estritamente obrigatório: “Se não fizerdes penitência, perecereis todos do mesmo modo”. (Lc 13,5). PERECEREIS! E que é penitência? É reparação dos nossos pecados, das nossas ofensas. Supõe o arrependimento. É possível, sem maior esforço, transformar as 24 horas de cada dia em contínua expiação dos nossos pecados: as mesmas ações ordinárias de cada dia, as mesmas orações que acaso fazemos se tornam penitência contínua se oferecidas cada manhã “em reparação de nossas ofensas” com uma fórmula que nós mesmos podemos compor ou utilizando o “oferecimento do dia” do Apostolado da Oração, segundo o qual é possível transformar em penitência até  mesmo as alegrias de cada dia; “…é a existência toda que se torna penitencial” (João Paulo II, “Reconciliação e Penitência” 4 § 4).

Outra visão que marcou profundamente a vida dos videntes de Fátima foi a visão que Nossa Senhora lhes concedeu do Inferno, para onde vão as almas dos condenados. As três crianças viram, mergulhados no fogo, os demônios e as almas, que caiam para todos os lados, sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero. Os demônios distinguiam-se por sua formas horríveis e asquerosas de animais espantosos e desconhecidos. Esta visão foi momentânea e, além disso, a Santíssima Virgem preveniu as crianças antes de conceder a visão e prometeu, na primeira aparição, levá-las para o Céu! “Se assim não fosse, creio que teríamos morrido de susto e pavor”2, disse Irmã Lúcia. Esta visão do Inferno e a visão do Anjo, que disse: “Penitência, Penitência, Penitência!”, concederam aos três pastorinhos a visão espiritual de que, especialmente em nossos tempos, é urgente fazer penitências, jejuns e sacrifícios, pela conversão e salvação dos pecadores, pois são muitíssimas as almas que vão para o Inferno por não ter quem reze e faça sacrifícios por elas.

Estas palavras do Anjo gravaram-se no espírito dos pastorinhos como uma luz, que os fazia compreender quem era Deus, como os amava e queria ser amado. As três crianças também entenderam o valor do sacrifício, que este era agradável ao Senhor e, em consideração desses sacrifícios, que convertia os pecadores. A partir desse momento, Lúcia, Francisco e Jacinta, começaram a oferecer ao Senhor tudo que os mortificava, sem pensar em procurar outras mortificações ou penitências, exceto passar horas seguidas prostrados por terra, repetindo a oração que o Anjo lhes tinha ensinado:

– Não temais. Sou o Anjo da Paz. Orai comigo.

E ajoelhando em terra, curvou a fronte até ao chão. Levados por um movimento sobrenatural, imitamo-lo e repetimos as palavras que lhe ouvimos pronunciar:

– Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam..

As aparições do Anjo de Portugal foram uma espécie de preparação dos pastorinhos para tudo o que eles experimentariam no futuro. Irmã Lúcia conta que a visão do Inferno horrorizou Jacinta a tal ponto que todas as penitências e mortificações lhe pareciam nada, para conseguir livrar de lá algumas almas. A pequenina Jacinta compreendeu e deixou-se possuir por um extraordinário espírito de mortificação e de penitência. Este foi concedido a Jacinta por uma graça especial que Deus, por meio do Imaculado Coração de Maria, quis conceder-lhe através da visão do Inferno e da desgraça das almas que aí caem. Hoje em dia, como naqueles tempos, até mesmo pessoas piedosas não querem falar do Inferno às crianças, para não as assustar. No entanto, Deus não hesitou em mostrá-lo a três crianças.

Na época, Jacinta tinha apenas 6 anos de idade. Com frequência, ela sentava-se no chão, ou em alguma pedra, e dizia: “O inferno! o inferno! que pena eu tenho das almas que vão para o inferno! E as pessoas lá vivas a arder como a lenha no fogo!” [meio trêmula, ajoelhava-se, de mãos postas, e rezava a oração que Nossa Senhora lhes tinha ensinado:] Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai as alminhas todas para o Céu, principalmente as que mais precisarem. Com o tempo, os três pastorinhos encontravam sempre formas de fazer, cada vez mais, duras penitências.  A mortificação é uma antiga prática da vida espiritual cristã; em tempos recentes, porém, ela perdeu espaço na vida de muitos católicos. Em primeiro lugar, a mortificação tem base bíblica. De acordo com o segundo livro de Samuel, os servos de Davi sofreram voluntariamente certa humilhação antes de serem reconhecidos pelo novo rei dos amonitas. Davi, talvez por conta do choque, concordou com a humilhação, dizendo-lhes para permanecerem na cidade até que suas barbas crescessem (2Sm 10, 1-5). Se realmente queremos alcançar a santidade, se quisermos realmente ser santos, devemos assumir mais cruzes e mortificar nossa carne.

Antes disso, até mesmo a Lei do Senhor estabelece a observância de um dia de expiação, em que nenhum trabalho seria realizado e todo o povo de Deus humilhar-se-ia, geralmente com mortificações físicas ou atos de humilhação, como vestir-se com roupas sujas e fazer jejum (cf. Lv 16, 29-31). Os jejuns e as penitências são claramente detalhados ao longo do resto do Antigo Testamento.

Os santos não eram alheios a essa prática. E não me refiro aos santos da antiguidade — há santos de todas as gerações que praticaram a mortificação. Há histórias fantásticas de como cada santo domesticou a própria carne. É famosa a história de São Bento, que se jogou em um arbusto de espinhos para cessar os pensamentos impuros; São Felipe Neri vestia camisas feitas com pelos de cavalo; 

Santo Antônio, tão amado pelo povo, sempre foi dedicado ao tema da conversão e da penitência. Ele nos sugere pelo menos 10 formas de realizar algum exercício penitencial.

A “disciplina de mortificação”, apesar de cansativa, não precisa ser chata! Os santos também podem nos ajudar a escolher uma forma adequada de perceber que as coisas que já fazemos têm valor se as oferecermos com intenção de reparação pelos pecados:

  1. Renúncia à própria vontade;
    Abstinência de comida e bebida;
    3. Rigor do silêncio;
    4. Vigílias de oração durante a noite;
    5. Derramamento de lágrimas;
    6. Dedicação de tempo à leitura;
    7. Trabalho físico exigente;
    8. Ajudar generosamente os outros;
    9. Vestir-se modestamente;
    10. Desprezar a própria vaidade.

    Estas sugestões de Santo Antônio de Pádua vêm do seu Sermão do Domingo de Pentecostes, 1§7.

As mortificações são, sem dúvida nenhuma, práticas santificantes, porque o domínio pessoal é uma exigência feita a todo cristão